Editorial
Autoritarismo não tem lado
Durante quatro anos, o Brasil flertou com a falta de entendimento da democracia e com os rompantes autoritários de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência de República. No período, o então chefe do Executivo desrespeitou instituições, tentou censurar a imprensa - atacando inúmeras vezes profissionais e veículos que não se dobraram às narrativas oficiais ou fake news, além de barrar o acesso a informações públicas - e alinhou-se a governos de extrema-direita cujos métodos são mundialmente reconhecidos como violentos e arbitrários. Chegou a declarar, em maio de 2020, que "a Constituição sou eu". E ao longo desse período, foi alvo de críticas severas e acertadas. Incluindo as que partiam do agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Longe de comparar o modus operandi e as credenciais democráticas de Lula e Bolsonaro, já que o primeiro as tem e o segundo não faz questão alguma de mostrar apreço à diferença de ideias, é impossível deixar de notar que o petista equivoca-se em sua postura nestes primeiros dias de governo ao tratar especificamente do tema autoritarismo. Isso porque o presidente não tem feito questão alguma de adotar o mesmo critério rígido de veto a este tipo de postura quando entram na mira governos de esquerda da América Latina. Ou seja, a mesma indignação e repúdio a personagens e regimes antidemocráticos da extrema-direita não é reproduzido nos discursos ao referir-se à realidade de países como Venezuela, Cuba ou Nicarágua, para citar os exemplos mais notáveis.
Como chefe de Estado de uma potência continental como o Brasil, capaz de promover a órbita natural das demais nações da região no seu entorno, Lula está recolocando o País no cenário internacional. E é extremamente importante que a principal economia sul-americana e uma das maiores do mundo deixe para trás o orgulho de ser um pária. No entanto, isso exige ainda mais atenção à posição de estadista. Além de ter sido eleito para pacificar o Brasil, jogando água na fervura das violentas disputas ideológicas, o presidente também recebeu a confiança de milhões de pessoas que esperam a intolerância a qualquer tipo de autoritarismo. Venha ele da direita ou da esquerda.
Autoritarismo não pode ter lado melhor ou pior. Respeito aos direitos humanos, ao poder da população, à democracia, tudo isso é inegociável. Há muito a ser feito e alguns acertos nos rumos indicados. Contudo, não pode haver brecha para passar pano a projetos absolutistas.
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